É preciso recuar até aos anos 60, em Inglaterra, para se encontrar as primeiras referências sobre a filosofia e os princípios dos Cuidados Paliativos (CP). A história dos CP funde-se com a vida de Cicely Saunders, enfermeira, médica e assistente social que não se conformou com a tão comum expressão usada em situações de fim de vida – “já não há nada mais a fazer”. Cicely Saunders provou que há muito mais a fazer, nomeadamente redefinir o projeto de vida, cumprindo-o da forma mais ativa possível até ao momento da morte.
E o que são os CP? São cuidados que pretendem dar resposta às necessidades do doente e família em sofrimento, por doença incurável ou grave, em fase avançada e progressiva. Aplicam-se a doentes, qualquer que seja a sua idade, e têm por objetivo a promoção do bem-estar e qualidade de vida, através da prevenção e alívio da dor e outros sintomas físicos, do sofrimento psicológico, social e espiritual, estendendo-se além da morte, no apoio no luto aos familiares. São prestados por equipas interdisciplinares com formação específica, onde quer que o doente deseje ser cuidado (em casa ou no hospital), e podem ser implementados paralelamente com a terapêutica dirigida à cura.
Os CP quando iniciados precocemente demonstram benefícios para os doentes no controlo de sintomas, na diminuição dos tempos de internamento hospitalar, dos reinternamentos, da futilidade terapêutica, do recurso aos serviços de urgência, e no alívio da sobrecarga dos familiares, melhorando por isso, a eficiência na utilização dos recursos em saúde.
O movimento dos CP em Portugal tem início nos anos 90, com a criação da Unidade de Tratamento da Dor Crónica do Hospital do Fundão. Em 2012 é publicada a Lei de Bases dos CP que consagra o direito e regula o acesso dos cidadãos a estes cuidados, e é criada a Rede Nacional de CP, coordenada pela Comissão Nacional de CP, responsável pela elaboração dos planos estratégicos para o desenvolvimento destes cuidados. Para o biénio 2017-2018, o plano estratégico tem como objetivos, a definição organizacional e garantia da qualidade dos CP, a acessibilidade em todos os níveis dos cuidados de saúde, a formação e investigação.
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, publicado em 2017, realça que em Portugal, “71% das mortes de adultos e 33% das mortes de crianças devem-se a doenças que necessitam de cuidados paliativos”. E embora estas percentagens se equiparem às de outros países europeus, a resposta é ainda insuficiente. Disso são exemplos os dados revelados pelo Observatório Português de CP que dão conta que das 25 regiões NUTS III, 7 não têm qualquer unidade de internamento de CP, e apenas 11 regiões têm equipas que prestam cuidados domiciliários, sendo desta forma evidentes as assimetrias regionais. Posto isto, perante tais dados será que já não há nada mais a fazer? Já se fez algum caminho mas há ainda muito por percorrer.
Referências Bibliográficas
– Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos. (Fevereiro de 2016). Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos em Portugal. Obtido de http://www.apcp.com.pt/uploads/Ministerio_da_Saude_Proposta_vf_enviado.pdf
– Comissão Nacional de Cuidados Paliativos (CNCP). (s.d.). Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos Biénio 2017-2018. Obtido de https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/09/Plano-Estrat%C3%A9gico-CP_20172018-1-1.pdf.
– Nóticias UC. (24 de Janeiro de 2018). Obtido de Universidade de Coimbra: http://noticias.uc.pt/universo-uc/investigacao-revela-elevada-necessidade-de-cuidadospaliativos-em-portugal-tanto-para-adultos-como-para-criancas/
Autor:
Vânia Ribeiro, Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação
Estudante do 1º Curso de Pós-Graduação em Cuidados Paliativos da ESSSM