As úlceras por pressão (UP) são atualmente um grave problema de saúde pública, dados epidemiológicos mais recentes em Portugal são relativos aos cuidados hospitalares e demonstram que a prevalência média de úlceras de pressão é de cerca de 11,5%. Dados preocupantes, visto que este problema acarreta não só custos acrescidos dependidos no tratamento, mas também sofrimento por parte do doente e consequente diminuição da qualidade de vida. Não existe apenas um único fator responsável pelo aparecimento desta doença, mas sim uma combinação de fatores de risco. Pode-se destacar desta forma a desnutrição, obesidade mórbida, idade avançada e pessoas acamadas, como alguns fatores críticos para o aparecimento desta doença.
- – Com a desnutrição ocorre um decréscimo da elasticidade da pele devido a depleção de proteína, assim os indivíduos desnutridos têm maior probabilidade de apresentar anemia (condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais), que por sua vez compromete o estado de oxigenação dos tecidos.
- – Com o envelhecimento ocorre também a diminuição dos processos metabólicos, velocidade de cicatrização/vascularização, diminuição da quantidade de colagénio e com a idade avançada, os indivíduos muitas das vezes apresentam maior dificuldade de mobilidade.
- – A obesidade mórbida, Índice de Massa Corporal >40 kg/m2, segundo os critérios da Organização Mundial da Saúde, é também um fator de risco, na medida em que indivíduos com obesidade mórbida apresentam uma má circulação sanguínea, visto que o tecido adiposo apresenta uma diminuída vascularização e o próprio excesso de peso provoca uma pressão aumentada em determinados locais do corpo.
Uma alimentação adequada, desempenha um importante papel quer na prevenção das UP, através da intervenção precoce nos grupos de risco, quer no tratamento, através da potenciação da cicatrização das UP. O processo de cicatrização é um processo no qual ocorre um aumento do gasto energético de repouso, assim a literatura recomenda uma ingestão de 30-35 kcal/kg/dia, pelo que o nutricionista atua de acordo com esses valores assim como tem em consideração outros fatores tais como a idade, estado clinico, comorbilidades, estado e numero de úlceras por pressão.
A ingestão proteica é particularmente importante para a cicatrização, destacando-se um aminoácido, a arginina, aminoácido semi-essencial, ou seja, embora seja sintetizado endogenamente a sua síntese não é suficiente para compensar a sua utilização no organismo em períodos de stress metabólico. A arginina estimula a deposição de colagénio em feridas, promove o anabolismo proteico, crescimento celular, induz a síntese de óxido nítrico (tóxico para as bactérias e bom vasodilatador), promove a angiogénese (formação de novos vasos sanguíneos) e atua como mediador da resposta imune.
A ingestão adequada de hidratos de carbono é imprescindível para não comprometer a atividade metabólica das células. Os leucócitos e macrófagos utilizam a glicose para a respiração aeróbica obtendo a energia necessária para a produção de fatores estimulantes da síntese de fibroblastos e colagénio.
Os lípidos por sua vez fornecem energia para a proliferação celular, são também importantes na síntese da membrana celular e reações inflamatórias.
A ingestão hídrica deve também de ir encontra às necessidades individuais de forma a promover o aumento do volume sanguíneo, aumentando a disponibilidade de oxigénio.
A presença de vitaminas e minerais na alimentação é também fator protetor do processo de cicatrização pois, são fontes de antioxidantes que protegem as células contra os danos oxidativos dos radicais livres.
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Maria Matos, Nutricionista Estagiária (2420 NE)
