Para os mais distraídos aqui fica uma novidade…TU também vais morrer! Quando vai ser? Como vai ser? O que há depois da morte? Isto são temas para outros debates, mas esta é uma verdade que nos toca a todos. Vamos morrer um dia! E já que não podemos escolher o dia, nem a forma como vamos morrer, pelo menos eu, desejava que fosse com o mínimo sofrimento e máximo conforto possível, ou seja, com acesso a cuidados paliativos.

Mas então o que é isso de Cuidados Paliativos? São cuidados em fim de vida? Não…são muito mais do que isso. São uma resposta estruturada e qualificada da medicina, atuando através de uma equipa interdisciplinar nas várias formas do intenso sofrimento humano relacionado com doenças graves, sejam elas agudas, crónicas, terminais ou reversíveis (e não só no fim de vida!). São cuidados que visam antecipar todas as necessidades da pessoa e da sua família, devendo ser implementados o mais precocemente possível no curso da doença em conjugação com outras terapêuticas destinadas à cura ou prolongamento de vida, e reafirmo novamente, não só no fim de vida!

Visam a prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social, espiritual, melhorando a qualidade de vida e confortando sempre os doentes, ajudando-os a viver tão ativamente quanto possível até à morte, respeitando sempre a integridade da pessoa enquanto ser autónomo que tem o poder de decidir sobre o local de prestação de cuidados e suas opções de tratamento.

Cada ano, cerca de 56 milhões de pessoas morrem em todo o mundo, sendo que nos países desenvolvidos 69-82% dos que morrem necessitam de Cuidados Paliativos.

Em Portugal, de acordo com um estudo publicado recentemente pela Prof ª. Doutora Bárbara Gomes, 71% das mortes de adultos e 33% das mortes de crianças devem-se a doenças que necessitam reconhecidamente de Cuidados Paliativos, realidade que é semelhante à Europeia, mas cujas discrepâncias surgem quando se avalia a inferior capacidade de resposta que existe no nosso país para lidar com estas situações. Na verdade, as marcadas mudanças na atual sociedade com uma população mais envelhecida e com a alteração do perfil de doenças prevalentes, tem reafirmado a importância dos Cuidados Paliativos enquanto direito humano básico.

Por isso, Tu que vais morrer um dia…não feches os olhos, não vires a cara… não há como fugir e depende de cada querermos mais, exigirmos mais e melhor, para que possamos continuar a escrever esta história, por uma caminhada mais digna até ao fim.

Autor:

Barbara Anahory,  Médica de Família Unidade Saúde Ilha São Miguel 

Estudante do 1º Curso de Pós-Graduação em Cuidados Paliativos

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