Regressava de um passeio por zonas do Porto que não constam dos roteiros turísticos e onde moram os excluídos do bem estar, quando me deparo com uma idosa transportando com imensa dificuldade três sacos de compras, mal podendo respirar e fazendo um esforço desumano para subir uma rua íngreme.
Parei para perguntar se precisava de ajuda e a senhora nem conseguia falar. Ofereci-me para lhe transportar os sacos e durante meia hora fizemos o caminho até ao prédio onde mora. Quase oitenta anos, antiga funcionária de escritório, viúva, dois filhos ausentes, uma reforma curta, uma renda de 250€ num terceiro andar sem elevador. Levei-lhe os sacos até ao terceiro andar e fiquei a pensar como pode esta senhora sobreviver ao dia a dia, com dificuldades respiratórias, longe dos sítios onde pode ter acesso às “promoções” alimentares, “sempre se poupa qualquer coisa”, a fazer caminhadas que são um verdadeiro sacrifício, sem ninguém que a ajude ou lhe dê uma simples palavra de conforto. “Ainda são os estrangeiros que mais me ajudam; os portugueses, nem bom dia”, confessou.
Que país é este? É esta a herança que vamos deixar aos nossos filhos? É por isso que chamo a estas pessoas “invisíveis” e, ironicamente, só se tornam notícia quando morrem sozinhas e abandonadas pela família, que as esqueceu, e pelos vizinhos, que somos todos nós.

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